lunes, 21 de marzo de 2016

1981 - VERDURA // PAULO LEMINSKI


26/4/1981 - Caetano Veloso interpreta Verdura 
 (do álbum OUTRAS PALAVRAS) 
Gravação ao vivo do Especial "Série Grandes Nomes", exibido na TV Globo 5/6/1981



“Verdura, ele tinha feito aquela, estava compondo na varanda, mas, assim, bem perto, sentado no murinho da varanda, bem próximo à cozinha, porta aberta, um dia ensolarado, eu lendo o jornal e ele compondo a primeira parte de Verdura: “de repente me lembro do verde, a cor mais alegre, a cor mais triste, o verde que vestes, o verde que vestistes”. 
Eu estava de verde quando a gente se conheceu. Já estava nisso, a música estava ali, o violão e ele ficava repetindo isso, esperando vir a inspiração final. E eu, lendo o jornal, vi a noticia de que muitas crianças, principalmente do nordeste, estavam sendo vendidas para famílias americanas. Eu falei “olha o que a fome do nordeste está fazendo com as pessoas” e contei pra ele. Li pra ele a notícia e, imediatamente, ele achou a segunda parte que é “de repente vendi meus filhos pra uma família americana...” [Alice Ruiz, poetisa, esposa de Paulo Leminski]



“… além de ser uma mini obra-prima, síntese de tropicalismos, revelou seu autor a um público maior". (Régis Bonvicino)

‘Verdura’ é um sonho. É genial. É um haikai da formação cultural brasileira”. (Caetano Veloso)

Soluções muito simples dispõem às vezes de um frescor e de uma força criativa genuína”. (Zé Miguel Wisnik)






Letra e música (*): Paulo Leminski [Curitiba 24/8/1944 - 7/6/1989]
1980

de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que te vi
o dia em que me viste

de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm carro
eles têm grana
eles têm casa
a grama é bacana
só assim eles podem voltar
e pegar um sol em copacabana




(*) “Tecnicamente, por ter criado a harmonia Ivo Rodrigues deveria constar como parceiro" (Toninho Vaz, em "Paulo Leminski - O bandido que sabia latim")


 

 

1981 - CAETANO VELOSO 
6129 2427 / 3:55 
Álbum "Outras Palavras" 
Philips LP 6328 303, B-5. Lançamento: Março de 1981
CD 838.465-2, Track 11. [1989]
 






Verdura, a primeira canção que tornou Leminski um compositor popular, aparece nessa obra ainda sem título.




Foto: Dico Dremer



 
LEMINSKI, Paulo. não fosse isso e era menos não fosse tanto e era quase. Curitiba: Editora ZAP, 1980. 80 folhas não numeradas.

Edição independente, com baixa tiragem, hoje uma raridade bibliográfica. 
Composto com a tipografia expandida na página, de modo que as ranhuras ficassem evidentes e os poemas, similares a anúncios publicitários.


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1982
Revista Veja 
13 de Janeiro de 1982 – n° 697 

Páginas 92-93
Foco do artigo: a ligação de Paulo Leminski com a MPB. (Okky de Souza)

Música

Um brilhante maldito

O agressivo Paulo Leminski

sai do anonimato literário e invade

as rádios com boas canções





“Leminski: arredio a badalações, autodefine-se como ‘uma besta dos pinheirais’.”



Desde que Caetano Veloso gravou a faixa “Verdura” em seu vitorioso último LP, o poeta paranaense Paulo Leminski, autor da canção, transformou-se numa das citações indispensáveis da temporada entre a juventude de São Paulo e do Rio de Janeiro. Através de uma melodia forte, combinando rock e samba de roda, e de uma letra de saboroso humor negro, Leminski surgiu como uma das raras e boas surpresas da música brasileira, uma novidade a se discutir e nela apostar, confirmada pela gravação de sua belíssima “Valeu”, no LP de Paulinho Boca de Cantor. Agora, com duas canções entre as mais executadas nas rádios FM do país — “Mudança de estação”, com a Cor do Som e “Chapéu de Marinheiro”, com o grupo Blindagem —, ele conquista uma popularidade tão justa quanto avessa à sua personalidade.
 



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Estréia show CORES, NOMES

Teatro Guaíra - Curitiba 
30/4/1982






1982
Revista VEJA
N° 714
12 de maio de 1982
Editora Abril







 













Leminski com Caetano Veloso e Alice Ruiz - Foto: Nani Góis



Revista ISTOÉ

12 de maio de 1982



BRILHA O COMETA CAETANO

Simples, sofisticado: o “show” de Cae que estreou em Curitiba


CORES, NOMES



Paulo Leminski



Se São Paulo já foi chamada de túmulo do samba, Curitiba, de certa forma a principal cidade do interior de São Paulo, era até a pouco a pirâmide com ar condicionado de todas as artes, onde jazia, impávido colosso, o sarcófago do vampiro daltônico (de Dalton Trevisan, por favor).


Todavia ventos mais cálidos começam a soprar entre os ipês da única capital do Brasil que, uma vez na vida, vê neve.



A ponto de Caetano Veloso dar partida na tournée nacional do seu show Cores, Nomes no burgo de Jayme Lerner, quando uma experiencia de urbanismo social-democrata, quase européia, orquestrada pelo própria burgomestre, está substituindo o (raro) calor atmosférico pela tepidez humana do convívio e do encontro.



Pasmo foi ver Caetano substituir uma ojeriza antiga, conforme ele mesmo conta, por uma paixão inesperada.

“Gosto das coisas que dão certo.”

E exemplificou:

“A Rede Globo, Curitiba...”



Quem lotou o Guairão nos três dias de Cores, Nomes foi uma Curitiba especializada. Os caetanistas são gente especial. Os muito jovens, os não tão jovens, um tanto ou quanto contraculturais, artistas, artistas da vida ou em idade de arte. Para eles, em Curitiba Caetano apresentou, em première nacional, seu show mais simples e mais sofisticado. Algumas cores. Alguns nomes. Momentos de estesia. De beleza pura, terreno no qual Caetano é imbatível. Afinal, que mistério tem Clarice?



Ao longo de quase trinta músicas, o mago de Santo Amaro vai entremeando antigos sucessos com as canções do seu mais recente LP, um meandro caprichoso, que tem seus orgasmos na caetaníssima Sina, de Djavan, a mais nova paixão musical do “Cavaleiro de Jorge”.



Esta, aliás, a música com que começa a cavalgada das tropicais valquírias de Cores, Nomes.

Daí, Caetano salta para Cajuína, Menina do Anel de Lua e Estrela, Badauê, do LP anterior, para desembocar em Ilê Ayê, deste LP, com letra do seu filho Moreno.


De repente, Caetano se lembra de Subaé e da urgência de purificá-lo, dando a esse riacho que atravessa sua terra a grandeza de um símbolo ecológico.

Cores, Nomes, vibram os políticos, traz um Caetano explicitamente preocupado como os problemas da tribo e da espécie. Lá está E Ele Me Deu um Beijo na Boca que não me deixa mentir. Esse beijo-provocação, de homem para homem.



Com sua movimentação roqueira, jaggeriana, Caetano toma o Trem das Cores, como se sabe, um veículo que só pára em todas as amizades coloridas de que este final de século é capaz.

Billy-hollydayana a interpretação de Meu Bem, Meu Mal.



E, no final, Caetano ainda se Queixa, pondo para fora, com o público, tudo o que um homem pode ter contra uma mulher.



Nesse show, by the way, Caetano continua o mesmo. O mesmo conjunto. O mesmo estilo de se apresentar. O mesmo nível de sempre do maior poeta-cantor da música popular brasileira.

O último a chegar é fã de Fagner.

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LEMINSKI, Paulo. Caprichos & Relaxos. 1983, 1a. edição. São Paulo: Brasiliense, 152 páginas.






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Caetano Veloso num táxi em Curitiba, 1976.
Foto: Toninho Vaz


Paulo Leminski e Alice Ruiz com Caetano Veloso num armazém de secos e molhados. Curitiba, 1976. Foto: Toninho Vaz



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 Paulo Leminski, Alice Ruiz e Caetano. Curitiba, 1980.


Rio de Janeiro, 1981 
 Caetano Veloso, Paulo Leminski, Moraes Moreira 
 










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24/8/1985


Aniversário no Palácio de Cristal, com Caetano Veloso

Paulo Camargo

24/08/2014

O Palácio de Cristal, ginásio de esportes do Clube Círculo Militar do Paraná, estava lotado e fremindo naquela noite de 24 de agosto de 1985, ao vigoroso som da Nova Banda. O grupo era formado pelos músicos Ricardo Cristaldi (teclados), Zé Luís (sax e flauta), Tavinho Fialho (baixo), Toni Costa (guitarra), Marçal (percussão) e Marcelo Costa (bateria), que acompanhavam Caetano Veloso no show Velô, espetáculo construído a partir do repertório do álbum homônimo, lançado no ano anterior. O sexteto já havia participado da gravação do disco, que rendeu ao compositor baiano sucessos como as pulsantes “Podres Poderes”, “O Quereres” e “Língua”.
A certa altura da apresentação, que graças às particularidades do espaço, menos formal do que o vizinho Guairão, se transformara em uma grande pista de dança, Sentindo-se em casa, Caetano chamou ao palco um velho amigo: Paulo Leminski, que fazia aniversário naquele dia. Em 1981, no LP Outras Palavras, o filho de dona Canô havia gravado “Verdura”, canção com letra e música do poeta curitibano. Os versos mais conhecidos dizem: “De repente/ vendi meus filhos/ a uma família americana/ eles têm carro/ eles têm grana/ eles têm casa/ a grama é bacana”.
E foi justamente para cantar/recitar “Verdura”, que Leminski, compositor bissexto mas um apaixonado por música, juntou-se a Caetano e, inebriado com o suingue e a energia da Nova Banda, não deixou mais o palco do Palácio de Cristal, emocionado com a homenagem recebida, segundo relata sua filha mais velha, Áurea, que tinha 14 anos e acompanhava os pais. Ouviu o baiano saudar, entre aplausos e vaias, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que já havia sido, àquela altura, prefeito de Curitiba por duas vezes. Também dançou, cantou e pulou como se aquela noite fosse a última. Bem ao estilo Leminski.












































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