martes, 7 de febrero de 2017

2005 - MARIA BETHÂNIA - MÚSICA É PERFUME


Georges Gachot conheceu Maria Bethânia quando veio ao Brasil para registrar a turnê do álbum Brasileirinho, em 2003. 

Ele ficou maravilhado e passou a acompanhar a cantora nos bastidores musicais: encontros, ensaios, gravações e passagens de som. Neste retrato intenso, Gachot mergulha fundo no universo artístico da baiana.

 









FICHA TÉCNICA
Titulo original: Maria Bethânia – Música é Perfume
Gênero: Documentário
Ano: 2005
País de origem: Suíça, França
Distribuidora: Idéale Audience / Imovision
Duração: 82 min.
Cor: Colorido
Som: Stereo
Diretor: Georges Gachot
Elenco: Maria Bethânia, Nana Caymmi, Miúcha, Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso 



Terça-feira, 2 de agosto de 2005 

Festival de Locarno começa com "Maria Bethânia"

Rui Martins 


Projeção do filme Maria Bethânia: Música é Perfume, do franco-suíço Georges Gachot, abre o Festival Internacional de Cinema de Locarno 

Minha voz "é uma centelha divina que brota em mim" diz a cantora no filme dedicado inteiramente à cultura musical brasileira 


Locarno - Este ano, o Festival Internacional de Cinema de Locarno começa um dia antes. Embora sua data oficial seja do dia 3 ao 13, na cidade suíça ticinesa de Locarno, o festival começa praticamente na noite de hoje, com a projeção do filme Maria Bethânia: Música é Perfume, do franco-suíço Georges Gachot no telão de quase 300 metros quadrados, na Piazza Grande.

Minha voz "é uma centelha divina que brota em mim" diz a cantora no filme dedicado inteiramente à cultura musical brasileira. Segundo Georges Cachot, seu realizador, a música ocupa um lugar central no cotidiano dos brasileiros, seja nos bailes, nas festas, no Carnaval ou nos concertos.

Esse longa-metragem tem uma hora e meia de duração e é também considerado como um imersão total no mundo apaixonante e sensual do Brasil. Concorre numa mostra paralela dedicado aos filmes suíços.

De acordo com o jornal dessa região suíça, Corriere del Ticino, cujo redator já pôde ver o filme "Maria Bethânia ilumina literalmente o filme com sua presença magnética e extremamente natural, quer esteja cantando diante de milhares de pessoas ou contando suas lembranças da infância com seu irmão Caetano Veloso. Para ela, a música é um perfume, alguma coisa essencial com o pão, imediata e sensual e que deve poder ser apreciada por todos". 




Jornal do Brasil
19/9/2005

Bethânia para todos


Diretor de Maria Bethânia: música é perfume, o francês Georges Gachot aportou ontem à tarde, no Estação Ipanema 1, para a primeira sessão do documentário, na programação do Festival do Rio. E-du-ca-dís-si-mo, fez questão de uma breve apresentação na nossa língua: ''Desculpe-me ler, mas não queria perder a oportunidade de expressar tudo o que senti realizando este filme'', disse Gachot, justificando a cola. Foi aplaudidíssimo quando, ao final, comentou que Bethânia foi o seu Pedro Álvares Cabral, concluindo: ''Espero que, com este filme, o mundo conheça a maravilha cultural deste país''. Maria Bethânia: música é perfume é comovente e traça sem pretensões o perfil de uma das nossa maiores intérpretes, que é capaz de dizer abertamente, com todas as letras ''Eu odeio o pôr do sol. Essa coisa meio barro, meio tijolo''. Querem mais autenticidade?






Entretenimento



Seg, 2 Jan/2006


Filme sobre Maria Bethânia estréia esta semana na Espanha


EFE


Madri, 2 jan (EFE).- O filme "Maria Bethânia. Música é perfume", do documentarista francês Georges Gachot, estreará na próxima sexta-feira na Espanha.

Gachot, músico e documentarista, disse à EFE em entrevista por telefone que o filme é seu "presente de Natal particular para o Brasil e para os amantes da artista, que é a maior cantora do mundo".

O autor, que rodou vários documentários sobre música clássica, entre eles um dedicado à pianista argentina Martha Argerich - prêmio Prix Itália - conheceu Maria Bethânia em 1996, em um show da cantora.

Com mais de 40 anos de palco, Maria Bethânia foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 1 milhão de discos.

"Ela me impressionou tanto, senti-me profundamente tocado por sua forma de fazer música. Fui a muitos shows em minha vida, mas nada pode ser comparado com ela. Ao escutá-la, senti-me muito perto de seu coração", disse Gachot.

Foi então que ele decidiu fazer um documentário sobre ela.

"Enviei a ela meu filme sobre Martha Argerich, ela gostou e aceitou a proposta." Entre 2003 e 2004, Gachot viajou três vezes ao Brasil, o que permitiu que ele passasse um total de 11 semanas com a cantora e com muitos de seus "cúmplices", entre eles seu irmão Caetano Veloso e outros músicos brasileiros como Chico Buarque, Nana Caymmi, Miúcha e Gilberto Gil, que define a voz da artista como "uma fricção do tudo e do nada".

A mãe da cantora, Dona Canô, lembra no filme como, quando menina, Bethânia nunca era escolhida para cantar no colégio devido ao timbre grave de sua voz.

Filmando com uma única câmera, Gachot se aproximou do universo da cantora "sem padrões prévios", porque essas regras "não tinham sentido para abordar uma artista tão complexa".

"Ela não fala francês e eu não falo português. Às vezes tínhamos um tradutor, mas nossa comunicação teve mais a ver com o olhar e com uma espécie de inteligência musical", disse o cineasta, um pianista que afirmou que "editar as 80 horas de material gravado foi um trabalho parecido com o de compor uma música".

Ao longo do filme, Maria Bethânia desentranha sua forma de entender a música brasileira: "é como o perfume, sensorial e imediato" ou "é a tristeza que oscila".

"Quando você a tem a um metro, cantando, é como estar no céu", disse George Gachot, que garante que sua meta ao fazer o documentário era que seus espectadores "nunca se esquecessem de que tinham passado um momento perto dela através do cinema, da mesma forma que se a visse alguma vez em um show inesquecível". EFE pdp rgf/af





Maria Bethânia ganha tela do Cine Estação
23/3/2006 

Maria Bethânia é mito. Uma lenda viva da Música Popular Brasileira. Seu canto vislumbra a possibilidade de viver, através da música, a paixão romântica pela voz de uma intérprete dramática, emocional. 'Maria Bethânia - Música é Perfume' apresenta a carreira da cantora fazendo um paralelo entre sua vida e as transformações pelas quais o Brasil passou nas últimas décadas. O filme estréia na sexta-feira (23), às 20h30, na tela do Cine Estação.


A voz grave, o cabelão e a postura esquiva para entrevistas sempre foram as marcas pessoais de uma intérprete que sempre se reservou das modas passageiras, do vício de estar sempre em evidência, privilegiando a carreira artística na escolha de compositores em álbuns conceituais, outros nem tanto.


A voz grave de Bethânia sempre oscilou entre as massivas repetições de composições que estão no imaginário popular e discos esquecidos em trabalhos tão pessoais que não alcançaram o grande público. Seu envolvimento com cinema pode ser observado em filmes como 'Quando o Carnaval Chegar', de Carlos Diegues, ao lado de Nara Leão e Chico Buarque; 'Maria Bethânia Bem de Perto', de Julio Bressane; e 'Os Doces Bárbaros',  de Tob Azulay, onde aparece bem mais à vontade, enfeitiçando o público com sua presença poderosa em vários palcos do Brasil nos loucos anos 70.


Em 'Maria Bethânia - Música é Perfume', o espectador que acompanha a câmera de Georges Gachot - até então especialista em documentários musicais sobre música erudita, assiste o olhar estrangeiro, suíço, diante de um País musical além do Atlântico em imagens que evocam a descoberta, a curiosidade e a concretização de um sonho que começou num certo Festival de Montreux em 1998.


Foi amor à primeira vista, já que Bethânia esnobou diversos diretores brasileiros que ambicionavam o mesmo projeto, sem dar muitas explicações (para não perder o seu estilo). 'Pensei que não havia novidade em fazer outro filme, mas achei que Gachot tinha uma olhar diferente e queria se aprofundar mais no meu gosto musical', declarou Bethânia por ocasião do lançamento do filme.


Como estrangeiro, Gachot pouco ou nada sabia sobre a música do lado de baixo do Equador. Em nove semanas de filmagem, a câmara de Gachot invade o estúdio de gravação do CD 'Que falta você me faz' e shows da turnê 'Brasileirinho', com cenas na Concha Acústica de Salvador e no Canecão (Rio de Janeiro). Foram mais de 80 horas editadas para 82 minutos com muitas imagens geradas apenas por uma câmera, o que pode irritar os perfeccionistas pelo excesso de luz clara.


Misto de documentário e musical, o filme privilegia o processo criativo da cantora (ver relação com o maestro Jaime Alem) e as interpretações dramáticas (espécie de transe no palco), assim como sua intromissão junto aos músicos quando acha necessário. Há também apropriação de algumas composições em que Bethânia interfere mudando palavras e tons. 'Há palavras que não digo, daí peço para mudar', justifica.

No filme o público também poderá conferir as participações especialíssimas de Miúcha, Chico Buarque, Nana Caymmi, Gilberto Gil e Caetano Veloso.


Serviço: Maria Bethânia - Música é Perfume (França/Suíça, 2005), direção: Georges Gachot. 82'. Livre. No Cine Estação, sexta-feira (24) e sábado (25), às 20h30. Domingo, às 10h e 20h30. Ingressos: R$ 7,00, com meia-entrada para estudantes. Ingressos antecipados no Empório das Artes - Estação das Docas


Documentário revela intimidade da cantora baiana Maria Bethânia
3/4/2006

Realizado pelo diretor francês Georges Gachot, o filme estréia ainda esta semana no cinema



Sérgio Rodrigo Reis

EM Cultura
 
 
Foto: Ari Gomes

“Música é igual a perfume. É algo sensorial.” A definição é de Maria Bethânia, numa das passagens mais emocionantes do documentário que tem estréia prevista nos cinemas esta semana, ao tentar explicar o que sente ao ouvir uma canção. Produção franco-suíça dirigida por Georges Gachot, o filme segue a cartilha do gênero e nem acrescenta tanto em termos de linguagem estética, mas ganha muitos pontos ao apostar na delicadeza dos depoimentos. Nisso é imbatível. Do início ao fim dos seus 82 minutos, a tela se enche de emoção, nos casos que brotam do imaginário de gente como a mãe de Bethânia, dona Canô, do irmão Caetano Veloso e dos amigos Gilberto Gil, Miúcha, Chico Buarque, Nana Caymmi e Jaime Além. São histórias que, se não dão a dimensão exata da grandiosidade dessa que é uma das maiores intérpretes da MPB, pelo menos fornecem pistas.

A primeira das pistas levantadas por Maria Bethânia: Música é perfume mostra que a diva é bem mais simples no dia-a-dia do que muitos pensam. Acorda mal-humorada, no meio da manhã toma uma cervejinha e, lá pelas 11h, confessa com um sorriso, já começa a melhorar o humor. Faz de tudo para prolongar ao máximo a manhã, a parte do dia que a faz se sentir mais criativa. Não gosta tanto da tarde, muito menos do pôr-do-sol. Algo que, para ela, é como um hiato do dia, até atravessar a noite e a madrugada. Apaixonada pelas coisas simples da vida, Bethânia demonstra no filme um respeito fora do comum pela música e pelas tradições da Bahia, mais precisamente da terra natal, Santo Amaro da Purificação. Dona Canô é especial nesse momento.

Dona Canô não consegue ver a filha apenas como artista, mas como aquela garota sapeca que subia em árvores com Caetano e ficava horas lá em cima, completamente imóvel, brincando de faquir. E ainda como seu braço direito durante a novena de Nossa Senhora da Purificação. O documentário não só registra a festa, como mostra a maneira como a família de dona Canô é tratada com respeito no Recôncavo. Os depoimentos revelam ainda outras curiosidades, como a origem do nome da cantora, dado por Caetano, aos quatro anos, inspirado na valsa do pernambucano Capiba, cujos versos “Maria Bethânia, tu és para mim/ a senhora do engenho, sucesso nos anos 40” eram cantados pela voz de Nelson Gonçalves. Meio a contragosto do pai, Zeca Veloso.

O filme ganha um sabor especial nas lembranças da matriarca da família. O ponto alto da narrativa acontece quando Bethânia comenta a adoração pela música. Gravado nos bastidores do show Brasileirinho, vai tecendo, palavra após palavra, a admiração pelo ofício que escolheu ainda criança. Ela conta que sempre soube que seria artista, trapezista ou cantora. Optou por soltar a voz ao mundo. A decisão por abandonar a idéia do circo em favor da música não foi das mais fáceis. “Ela tinha vergonha da voz grave que tinha. Custou a cantar”, revela dona Canô.

Felizmente, Maria Bethânia deixou a timidez de lado em favor da música e se tornou uma das melhores intérpretes da MPB. Daquelas que, quando solta a voz, parece provocar faíscas nos ouvidos dos fãs. Ou quando sobe ao palco e a pequena em estatura se transforma num gigante que emociona a todos com sua interpretação. Inclusive ela própria. “A música é minha. Mora em mim, mas é expressão de Deus”, justifica, explicando as lágrimas que brotam nos olhos, numa das melhores passagens do filme.
 

Entrevista - Uma homenagem à MPB

3/4/2006

Sérgio Rodrigo Reis
EM Cultura

No período em que mergulha no processo criativo de um novo disco, Bethânia costuma se fechar num mundo particular, cercada de amigos, evitando se expor em público e, de forma nenhuma, fala com a imprensa. Não adianta nem insistir. Certo? Nem tanto. Movida pela emoção de ver vida e obra retratada no cinema, ela aceitou falar sobre a maior paixão: a música. Confessa ter se surpreendido com o convite do diretor francês George Gachot e que, mais que um tributo à sua trajetória, o documentário é uma homenagem à MPB.

Como você reagiu ao convite de ter a vida retratada em documentário?

Fiquei muito satisfeita, feliz. Foi uma maneira de reverenciar a MPB. George Gachot é um especialista em música erudita, já havia feito o documentário da pianista Martha Argerich e foi através de minha voz que se aproximou e se cativou pela nossa música. Ele me assistiu na Suíça, identificou em minha voz uma cor diferente e veio ao Brasil conversar comigo sobre a possibilidade do filme. Mandou o documentário da Martha e eu adorei. Normalmente esses filmes dedicados à música erudita são maçantes, e o dele não era. Na hora aceitei o convite.

A base do filme é a emoção. Desde o início, essa foi a opção?

Na época, havia acabado de fazer o disco Brasileirinho e preparava o show. Quando o diretor viu, ficou louco. No processo de elaboração do documentário ele fez, pelo menos, três longas viagens ao Brasil. Onde quer que eu fosse, me acompanhava: no Rio e na Bahia, em Santo Amaro da Purificação. Gachot é muito ligado à emoção, se comove quando filma, assim como sua equipe, formada por gente sensível, delicada e com um jeito diferente de trabalhar. Fiquei muito feliz e, desse processo, ficou a música na tela.

De onde surgiu a metáfora que batiza o documentário?

O nome veio por acaso. Sou uma cantora que me emociono e, num dos depoimentos, soltei essa comparação: “música é igual perfume”. Num momento em que tentava explicar esse lado abstrato das canções, me veio essa metáfora. Assim como o perfume, a música é o que mais toca as pessoas. Você ouve e, imediantamente, aquilo te carrega. Perfume também evapora, fica no ar, é outra memória. Um cheiro pode te lembrar um amor, um livro…, assim como a música. As sensações se parecem. Quando tentava explicar tudo isso, Gachot teve a idéia de batizar o filme com este nome. Mas não me disse nada. Só vi na tela.

Você está gravando um novo disco pela gravadora carioca Biscoito Fino. Já é possível adiantar algo?

O disco novo tá indo, estou gravando, mas só para o segundo semestre. Não gosto de ficar adiantando as coisas quando estão em processo. Não é por nada... Acho que, quando falo, gasto, é muita energia. Só posso dizer que estou feliz, bem entusiasmada e que as composições estão surgindo.









BAFICI 2006

Suiza / Francia - Switzerland / France, 2005
82' / 35 mm / Color
Filme documental / Documentary film

Maria Bethânia: musica é perfume / Maria Bethânia: Music is Perfume / María Bethânia: la música es perfume

Pasan los años y la voz de Maria Bethânia sigue fresca como el agua, aunque ahora peine canas y sea una figura señera de la música de su país. Siempre interesada en arreglos casi barrocos y textos melodramáticos, en las antípodas de la bossa nova, Bethânia consigue hacerlos parecer simples, naturales, sólo con agregarles su canto. El documentalista Georges Gachot, que ya entrevistara a nuestra Martha Argerich, consigue acceder a la cantante, habitualmente reacia a mostrar su intimidad. Sin grandes revelaciones personales, Gachot muestra sin embargo la trastienda del fenómeno musical, que revela a una Bethânia desconocida, en completo control de toda su artística, tanto en sus espectáculos como en el estudio de grabación. El cuadro se completa con un repaso de su historia a cargo de ella misma, su madre, su hermano Caetano Veloso y compañeros del camino como Chico Buarque, Miúcha o Gilberto Gil.
Las abundantes canciones sirven no sólo para saciar la sed de sus seguidores, sino también para

Georges Gachot

Nació en París en 1962. Radicado en Suiza desde sus 18 años de edad, Gachot estudió ingeniería eléctrica, al tiempo que practicaba piano y estudiaba musicología. Hacia 1985 ingresó en la modesta industria audiovisual suiza, como actor y asistente de dirección. Ambas vocaciones -cine y la música- confluyeron en una obra propia iniciada en el campo del videoclip y proseguida en el retrato documental de músicos de prestigio internacional. Antes dirigió: Bach at the Pagoda (1997), Marta Argerich, Conversation Nocturne (2003) y Geld oder Blut (2004).
  





O POVO
5/5/2006
Dona Maria Bethânia

Maria Bethânia põe a música em seu devido lugar. "É perfume, é sensorial, expressão divina", define, entre umas e outras idéias recortadas de sua personalidade em Maria Bethânia - Música é Perfume.

O documentário estréia hoje nos cinemas. A direção e o roteiro são do músico francês Georges Gachot

Felipe Gurgel
da Redação



Documentário sobre a vida e a obra da cantora Maria Bethânia e um resgate histórico da música brasileira



Permitam-me contar uma curiosidade. O nome quem escolheu foi o irmão Caetano, a contragosto da mãe Dona Canô Veloso: "Maria Bethânia" vem da música do pernambucano Capiba - sucesso na voz de Nelson Gonçalves na década de 40. "Maria Bethânia/ Tu és para mim/ A senhora do Engenho/ Em sonhos te vejo". Apesar da repulsa da mãe, o nome ficou. Esse e outros contos de intimidade da baiana Maria Bethânia estão em exibição no documentário Maria Bethânia - Música é Perfume, que estréia hoje, nos cinemas. O músico francês Georges Gachot assina direção e roteiro.

O vídeo não segue uma cronologia. Há algumas (poucas, na verdade) pinceladas das origens e da biografia de Bethânia até então. A edição privilegia os processos dela enquanto cantora. O olhar "intrometido" em tudo, por assim dizer: a arranjadora, a intérprete atenta e exigente aos versos que lhe oferecem. Mostra como o repertório é arranjado para que a melodia abra espaço à dramaticidade de sua voz. O próprio Caetano (Veloso) situa a performance da irmã intérprete no contexto histórico: revela como ela não se afinou à "frieza", à suavidade da bossa nova.

Dos estúdios ao reconhecimento dos palcos durante a turnê Brasileirinho (2004), há momentos de Bethânia à vontade, sem visual arrumadinho. Espontânea - até onde a própria permitiu aparecer. Ela relutou diante de algumas cenas da primeira versão do diretor. Pediu para cortar os excessos, não quis prolongar passagens que aparecia em completo êxtase ou festa. E argumentou que a intimidade exposta daquele modo pouco interessava ao público. No próximo dia 18 de junho, a cantora completa 60 anos. Ao passo das tendências da mídia, a data deve revisitar o legado e provocar uma sucessão de homenagens a Bethânia.

De fato, mesmo as referências biográficas - sob o depoimento dela, de Caetano e da mãe - são breves. Conta da ligação real e sem falsa diplomacia à terra natal, Santo Amaro da Purificação (BA). Talvez o melhor momento de sua trajetória exibida no vídeo. A cantora fala o quanto aprendeu e deve à vida por ali. Da rotina caseira atual, no Rio de Janeiro, revela pouquíssimo.

Maria Bethânia demonstra afeição pelos momentos distintos de cantar: em estúdio e ao vivo. Jaime Alem, violonista e diretor musical, é o braço da cantora, acompanha passo a passo a feitura dos arranjos. Palpita com autonomia diante dela, inclusive. Ao vivo, além da performance dos shows, o documentário capta alguns instantes de Bethânia na estrada, "reconhecendo" o terreno em cada palco nas passagens de som - um ritual já reconhecido pelos fãs da cantora.

A trilha sonora se mantém além da edição de imagens. É o biscoito fino do documentário. Bom Dia Tristeza (Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes), Melodia Sentimental (Villa-Lobos), Olhos nos Olhos (Chico Buarque), entre outras canções, realçam uma das interpretações mais emotivas da MPB. A "mensagem" do roteiro - se houver essa pretensão - é poética. Abstrai desse nosso chão. Bethânia se põe à disposição da melodia, se entrega. Sabe e consegue sentir a música feito expressão divina. Pronto. Por aí, o documentário já se faz necessário. Goste você dessa senhora, ou não.


SERVIÇO
MARIA BETHÂNIA - MÚSICA É PERFUME (FRA / SUÍ, 2005) De Georges Gachot. Com Maria Bethânia, Nana Caymmi, Miúcha, Chico Buarque, Caetano Veloso. 82min. Estréia hoje no Espaço Unibanco 1, às 16h, 20h e 22h. Livre.








 



 



































 

São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

Crítica/DVD

"Música É Perfume" tem olhar de fora
LUIZ FERNANDO VIANNA

DA SUCURSAL DO RIO


Consta que o francês Georges Gachot ficou tão impressionado ao ver um show de Maria Bethânia nos anos 90 que decidiu fazer um documentário sobre a cantora. Concluída em 2005, a missão se chama "Maria Bethânia - Música É Perfume", agora em DVD. O olhar espantado do diretor marca o filme.
Neófito em Brasil, ele ressalta os nossos contrastes, mostrando, por exemplo, mulheres com vestes de candomblé em uma igreja de Santo Amaro da Purificação, cidade baiana de Bethânia. E exibe a beleza natural avassaladora do Rio, vizinha à miséria social também chocante.

O texto subjacente é que Bethânia é a voz do país, por ser tantas em uma só, por conciliar rural e urbano, popularidade e sofisticação. Mas incomoda um pouco a gratuidade de imagens como as de pessoas dentro de ônibus. Parece um clipe da "gente simples brasileira".

O documentário vale mais pela incursão que faz aos bastidores do trabalho de Bethânia, logo ela que é tão reservada e não cede ao exibicionismo do mundo do entretenimento. Há momentos especialmente comoventes, como quando a câmera acompanha a cantora ensaiando "Bom Dia, Tristeza" (Adoniran Barbosa/Vinicius de Moraes). Ela vai "entrando" na música e, de repente, a tristeza toma conta de tudo, por obra e graça de sua força de intérprete.
Os depoimentos de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Nana Caymmi não chegam a ser reveladores, ao menos para quem conhece a trajetória de Bethânia. Alguns são didáticos, pois dirigidos a um estrangeiro.

Mas há boas falas, como a de dona Canô, delicadíssima, dizendo que está com a filha através de orações, dada a distância entre Santo Amaro e o Rio. Ou a de Chico classificando "Brasileirinho" como a idéia de um país possível, esse que espantou Gachot e espanta todos nós. 


MARIA BETHÂNIA - MÚSICA É PERFUME
Direção:
Georges Gachot
Distribuidora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 50 em média





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