domingo, 2 de octubre de 2016

1986 - CAETANO VELOSO E VIOLÃO









Foto: Silvio Ricardo Ribeiro/Estadão





Show em que Caetano Veloso, acompanhado só de violão, interpreta principalmente antigas canções brasileiras.

Estréia: 4/6/86 no Palace, São Paulo, onde fica três semanas.

  4 a   8/6/1986
11 a 15/6/1986
18 a 22/6/1986 





FOLHA DE S.PAULO
Ilustrada

Terça feira, 3 de junho de 1986
Pág. 40


Caetano, um banquinho e um violão

RENATA RANGEL
Da Reportagem Local






Caetano Veloso chegou do Rio ontem de madrugada e encontrou São Paulo fría. Vestiu calça de veludo, casaco de couro e cachecol para enfrentar o clima, mas mesmo assim está um pouco preocupado com a possibilidade de um resfriado atrapalhar sua voz. Afinal, é só dela e de seu violão que depende o show que fará a partir de amanha no Palace.

Em “Caetano Veloso e Violão”, que fica em cartaz três semanas, ele está só em um banquinho, interpretando varias antigas canções brasileiras. “São as músicas que eu canto em casa . Mais que saudosismo, é um show intimista”, diz ele. “O que eu mais gosto no mundo é cantar, muito mais que compor”.

Para ese tipo de espetáculo, diz Caetano, o mais importante é estar cantando sempre. Confessa que não vinha fazendo isso, ocupado com as filmagens recém-encerradas de “O Cinema Falado”, seu primeiro trabalho como director. “Nos últimos días cantei bastante para reaquecer, músicas bem velhas como “Chuá, Chuá”.

O show repete a idéia daquele que apresentou há alguns meses no Rio de Janeiro e que se transformou no disco “Totalmente Demais”, a ser lançado esta semana pela WEA junto com outro gravado em Nova York também apenas com violão, “Caetano Veloso”. Mas será diferente: o roteiro do espetáculo carioca nem existe mais (“Perdi o papel”) e o disco, diz Caetano, não serve como guía. 

Melhor assim, porque ele espera que a temporada paulista seja melhor. “O de lá eu não gostei muito, eu não estaba inspirado, não me sentí à vontade. As pessoas disseram que foi genial, mas não foi. As pessoas estavam enganadas.”

Difícil de cantar

Até o final da tarde de ontem, quando recebeu a imprensa para uma entrevista coletiva no hotel Maksoud Plaza, na Bela Vista (região central de São Paulo), Caetano ainda não tinha a relação completa do que irá cantar. “O problema é que conheço muitas músicas e fica difícil escolher.” Ainda não deberá ser dessa vez que tornará pública sua interpretação para canções como “A Felicidade” e “Chega de Saudade”, que coloca entre suas preferidas, daquelas que canta dezenas de vezes seguidas em casa. “São muito difíceis de cantar”, afirma.

O show terá “Kalu”, de Humberto Teixeira, “Pra que mentir”, de Noel Rosa, “Eu sei que vou te amar” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, “Oba-lá-lá/Bim-bom”, de João Gilberto. Poucas composições suas (“Vaca Profana”, “Coração Vagabundo”), porque “gosto mais de cantar músicas dos outros”.

Caetano também incluirá “Billie Jean”, sucesso de Michael Jakcson que acha “uma coisa linda” desde a primeira vez que ouviu no rádio do carro, em Salvador, e que o faz lembrar de “Eleanor Rigby” dos Beatles.

Do filme que acaba de fazer Caetano não fala muito. “Ficou do tamanho de um show”, o que quer dizer cerca de uma hora e meia. É um filme de idéias, que quería fazer desde os 15 anos de idade e poderia se chamar “Ensaios”. O nome acabou sendo “O Cinema Falado”, um trabalho que levou 21 dias para ser filmado e mais alguns para a montagem. Na segunda e terça-feira próximas Caetano vai ao Rio para a edição de som. Caetano aparece pouco como ator.

Também não se preocupa com as críticas que recebeu seu programa com Chico Buarque na TV. Diz que as exigências são falsas –“Chico Buarque não é um performer, mas um compositor que dá a colher de chá de cantar para vocês”-, que os ataques só vieram depois que foram divulgados os índices de audiencia – “Entao é o Ibope que importa?”
“Confesso que ese não é um trabalho muito autoral, é apenas uma produção de TV.”

Sobre a censura à música “Merda”, que seria incluída no primeiro programa, Caetano Veloso continua condescendente. Afirma que se deve exigir menos da “Nova República”, debe-se “fazer menos greves”. Seu raciocínio: “Por que aguentamos tantas coisas horríveis, tantões caminhões, caladinhos e agora vamos fazer barulho?” Mas com o veto presidencial ao filme de Godard continua intransigente e responde a Roberto Carlos, que considerou indelicadas suas declarações a respeito do apoio que o “rei” deu ao presidente Sarney no episódio.






























































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