jueves, 14 de julio de 2016

2016 - REVER_AUGUSTO DE CAMPOS



“Partimos de um conceito criado por James Joyce – ‘verbivocovisual’ –, que diz respeito à ampliação da dimensão do poema, e selecionamos trabalhos com apelo visual e sonoro muito fortes, sem esquecer a trajetória de Augusto, com seus principais poemas e também experiências menos conhecidas”.  
[Daniel Rangel, maio 2016]



Exposição: de 5/5 a 31/7/2016
Sesc Pompéia
Artistas: Augusto de Campos
Curadoria: Daniel Rangel

 
27/7/2016 - Conversa sobre o trabalho de Augusto de Campos em poesia, tradução e ensaio, em paralelo à recepção de sua obra por dois grandes estudiosos dos parâmetros e contextos de produção da poesia experimental moderna e contemporânea.

30 e 31/7/2016 - Sompoesia. Espetáculo dirigido por Cid Campos, músico filho de Augusto, leva para o palco Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Péricles Cavalcanti e Tom Zé.



3/5/2016


Exposição “REVER_Augusto de Campos", com curadoria de Daniel Rangel.
Datas e horários: De 5 de maio a 31 de julho de 2016. De terça a sábado, das 10h às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 19h.
Local: Sesc Pompeia | Rua Clélia, 93 - Pompéia.



Montagem em MDF do poema concreto 'Viva Vaia', dedicado a Caetano Veloso por Augusto de Campos

Aos 85 anos e em plena atividade poética, artística e intelectual, Augusto de Campos ganha a maior exposição individual de sua carreira, que completa 65 anos em 2016. De 5 de maio a 31 de julho, o Sesc Pompeia apresenta “REVER_Augusto de Campos”, realizada em parceria com o ICCo - Instituto de Cultura Contemporânea e com curadoria de seu diretor artístico Daniel Rangel.
A mostra explora o conceito verbivocovisual da obra de Augusto de Campos – termo criado pelo escritor irlandês James Joyce que destaca a materialidade do poema em todas suas dimensões, não apenas semântica, mas também sonora e visual. São poemas que saem das publicações e se transformam em serigrafias, objetos, esculturas, colagens, instalações, áudios, animações e vídeos em 3D.
“A ideia de REVER é criar um ambiente imersivo com os poemas, sejam esses escritos, falados, desenhados, esculpidos ou projetados. Uma ‘invasão’ poética e visual de Augusto de Campos, onde a palavra é expandida para além dos limites dos livros”, explica Daniel Rangel.
A seleção de obras, que conta com cerca de 75 trabalhos, tem como ponto de partida os quatro livros de poesia do autor – Viva Vaia (1979) Despoesia (1994), Não (2003) e Outro (2015) –,  além de peças sonoras e audiovisuais produzidas por ele ao longo de sua trajetória. Há ainda manuscritos e documentos originais, que serão exibidos pela primeira vez.
Ao mesmo tempo em que tem um caráter histórico, ao percorrer de forma cronológica a carreira de Augusto de Campos, "REVER" é também inovadora, pois apresenta ao público novas leituras para muitos de seus trabalhos.
Viva Vaia (1972), por exemplo, será apresentada como uma escultura penetrável em MDF, aço e tinta acrílica e Código (1973), uma escultura em chapa de PVC, aço e madeira. Amortemor (1970) e Vida (1957) ganham versões instalativas e poemas como O Pulsar (1992), Poema Bomba (2003) e Rever (2003) serão exibidos em uma sala especial com versões em 3D, assim como o poema Cidade/City/Cité (1963) que, desde sua criação, vem ganhando novas versões – tendo sido o primeiro trabalho eletrônico de Augusto, em 1975 – que também terá na mostra uma releitura em LED.

 
Augusto de Campos, Sol de Maiakóvski, 1982-1993 (Divulgação)


Outro destaque de "REVER", a área compreendida pelo gabinete reúne extenso material de Augusto de Campos, desde exemplares de seus poemas-objetos, protótipos de obras como Poemóbiles (1974), publicações com Expoemas (1985), Caixa Preta (1975), edições da revista Noigandres (de 1952 a 1962) – criada por Augusto, Haroldo de Campos e Décio Pignatari –  e ainda manifestos, fotografias e objetos produzidos desde os anos 1950. Além das colagens originais dos Popcretos (1964-1966), mostradas pela primeira e única vez na Galeria Atrium, em São Paulo, em 1964, também estão entre as obras.
“A mostra busca exibir um amplo panorama de sua produção, interpretar sua poesia em diversos suportes visuais e sonoros, e inserir sua obra, já consagrada no meio literário, no âmbito das artes visuais, definitivamente”, diz o curador.
Para Augusto de Campos, "REVER" é ao mesmo tempo uma exposição retrospectiva e prospectiva. “Exposição retrospectiva porque abrange obras que representam todas as etapas da minha poesia, que faz parte do acervo histórico da poesia concreta. Mas exposição prospectiva, também, porque procura acentuar alguns dos trabalhos que mais se alinham ao programa verbivocovisual, projetando-se em meus últimos experimentos com a linguagem computacional. Não sei se o que faço é ainda poesia concreta. Fiquei talvez mais ‘pop’. Mas sempre 'verbivocovisual'”, afirma o artista-poeta.
A mostra contará também com programação integrada à exposição, aprofundando a discussão entre as linguagens relacionadas à obra do Augusto de Campos, à poesia concreta e à poesia visual em suas diversas facetas – a saber, música, literatura e artes visuais. Uma equipe de educadores desenvolverá ateliês, oficinas, visitas orientadas e encontros com professores durante todo o período da mostra.

Sobre Augusto de CamposNascido em São Paulo, em 1931, é poeta, tradutor, ensaísta, crítico de literatura e música. Sua bagagem literária registra numerosas publicações, de 1951 a 2014. Com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, lançou em 1952 o livro-revista Noigandres, origem do grupo literário que iniciou o movimento internacional da Poesia Concreta no Brasil. Em 1953, produziu a série de poemas em cores, Poetamenos, primeira manifestação da poesia concreta brasileira. Em 1956, participou da organização da 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, e a partir de então seus trabalhos foram incluídos em diversas exposições nacionais e internacionais de poesia concreta e visual e em antologias editadas no exterior como as publicações "Concrete Poetry: an International Anthology", organizada por Stephen Bann (London, 1967), "Concrete Poetry: a World View", por Mary Ellen Solt (University of Bloomington, Indiana, 1968), "Anthology of Concrete Poetry, por Emmet Williams" (NY, 1968) entre outras. Sua produção poética, iniciada em 1951, com o livro O Rei Menos O Reino, está reunida principalmente em Viva Vaia (1979), Despoesia (1994) e Não (2003), além de Poemóbiles e Caixa Preta, coleções de poemas-objetos, em colaboração com Julio Plaza, publicados em 1974 e 1975, respectivamente. Sua produção vem influenciando gerações de artistas, seja do campo da literatura, artes visuais ou mesmo da música. Augusto foi fonte de inspiração para nomes com Caetano Veloso, Arrigo Barbané, Percicles Cavalvanti, Walter Franco, Cid Campos, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto, Lenora de Barros e Marilá Dardot, entre tantos outros.

Sobre os livrosViva Vaia compila trinta anos de produção poética de Augusto de Campos, desde seu primeiro livro, O Rei Menos o Reino, cujos poemas mais antigos datam de 1949. A publicação reúne alguns dos poemas mais conhecidos da poesia concreta brasileira, como “Viva Vaia” (1972), “Luxo” (1965), “O Pulsar” (1975), a série “Poetamenos” (1953) e as colagens dos “Popcretos” (1964-1966). A maior parte destas experiências de desconstrução e reconstrução das palavras foi feita manualmente, seja com a utilização de carbonos coloridos e máquinas datilográficas, como na série “Poetamenos”, seja nas colagens tipográficas provindas de jornais e revistas dos “Popcretos”.
Despoesia reúne um longo e importante período de sua produção poética, em que ele intensifica o contato com diferentes tipos de mídias – como luminosos, néon, laser e vídeo –, produz holografias e realiza suas primeiros contatos com computação gráfica. Augusto produziu clip-poemas, videotextos, cartões e cartazes, além de muitos trabalhos sonoros, com seu filho músico, cid campos. Fazem parte desta fase os poemas “Pós-tudo” (1984), “Poema Bomba” (1987) e “SOS” (1983), entre muitos outros que integram a mostra.
Não é, em grande parte, realizado em meio digital. Todos os poemas foram produzidos por meio da computação gráfica, sendo que muitos dos poemas impressos são frames retirados de vídeos. Um CD-ROM acompanha o livro, com videopoemas de novos trabalhos e releituras de poemas. Nesta produção audiovisual, Augusto explora o recurso rítmico da edição, colocando a palavra em movimento a partir do som das leituras, muitas vezes musicadas, de seus poemas. A migração de suporte é evidente, e o livro, em si, não consegue mais dar vazão a sua produção poética. Boa parte dos vídeos e experimentos digitais produzidos nesse período está incluída na mostra, exibida em tablets, projetores e até mesmo em vídeo em 3D.
Outro propõe um retorno à produção gráfica. Augusto não deixou de produzir trabalhos audiovisuais, que integram o livro por meio de links da internet, mas volta a ressaltar a dimensão gráfica presente em seu trabalho. O livro é organizado pelas séries que permeiam toda sua produção – os prefixos ex, intro e des – e traz “poemas-quadros querendo ser clipes”, nas palavras do autor. O livro foi lançado em paralelo à concepção da exposição, de modo que seus “poemas-quadros e clipes” puderam ser incorporados a ela.


Augusto de Campos, Sos, 1983 (Divulgação)



Fonte: InfoArtSP, agenda cultural online das artes visuais na cidade de São Paulo



Bate-papo: POESIA ALÉM DA PÁGINA  
Com Augusto de Campos, Marjorie Perloff, 
Gonzalo Aguilar e Daniel Rangel.


Créditos: divulgação/Sesc Pompeia

Marjorie Perloff ensaísta e professora de Humanidades da Universidade de Stanford, Califórnia, considerada uma das críticas literárias mais importantes da cena norte-americana atual, juntamente com o argentino Gonzalo Aguilar, especialista em literatura brasileira e autor do livro Poesia Concreta Brasileira, participam do bate-papo "Poesia Além da Página", mediado por Daniel Rangel.
A atividade, que traz também a presença de Augusto de Campos, convida o público e os estudiosos a conversarem sobre as características do universo do artista-poeta e da poesia concreta brasileira.





26/7/2016
Sesc Pompeia promove conversa sobre o legado da poesia concreta brasileira 
Encontro ocorre no dia 27 de julho, em São Paulo, e é gratuito 

Do R7


Encontro de poesia terá Marjorie Perloff, Gonzalo Aguilar, Daniel Rangel e Augusto de Campos - Divulgação/Beatriz de Paula

Se você curte poesia, não pode perder essa oportunidade.
O Sesc Pompeia recebe, no dia 27 de julho (quarta-feira), às 20h, o encontro Poesia Além da Página. Na ocasião, o público poderá participar de uma conversa com Marjorie Perloff, Gonzalo Aguilar, Daniel Rangel e Augusto de Campos.
A noite será dedicada a descutir sobre as características do universo da poesia concreta e visual.
O encontro é gratuito e a retirada de ingressos acontece a partir das 19h, no próprio Sesc Pompeia



 26/7/16

Bate-papo 'Poesia Além da Página' debate legado da poesia concreta brasileira

Participam do encontro, que ocorre nesta quarta (27), Marjorie Perloff, Gonzalo Aguilar, Daniel Rangel e Augusto de Campos


 Daniel Rangel, Marjorie Perloff, Augusto de Campos e
 Gonzalo Aguilar


Nesta quarta-feira (27), o Sesc Pompeia realiza o encontro 'Poesia Além da Página', com a presença de Augusto de Campos e dos estudiosos Marjorie Perloff e Gonzalo Aguilar para conversa sobre as características do universo da poesia concreta e visual.
Marjorie Perloff e Gonzalo Aguilar estudam os parâmetros e contextos de produção da poesia experimental moderna e contemporânea. Na ocasião, Daniel Rangel, curador da exposição Rever Augusto de Campos, fará a mediação da conversa.
Considerada uma das mais importantes teóricas da produção poética de vanguarda, defensora de poéticas radicais e de novos paradigmas para a discussão de poesia, a ensaísta norte-americana Marjorie Perloff aborda, além da obra de Augusto, outros exemplos de concretistas, como os canadenses Christian Bök e Derek Beaulieu e o estadunidense Kenneth Goldsmith.
A ensaísta tem alguns livros publicados no Brasil, entre eles 'O Gênio não Original' (publicado pela UFMG, 2013), 'A Escada de Wittgenstein' (publicado pela Edusp, 2005) e 'O Momento Futurista' (publicado pela Edusp, 1993).          
O argentino Gonzalo Aguilar, ensaísta e critico especialista em literatura brasileira, escreveu o livro "Poesia Concreta Brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista", em 2005, no qual apresenta uma revisão sobre o movimento concreto e a trajetória de seus idealizadores, explicando a forma com a qual os artistas se posicionavam sobre algo por meio da técnica artística. Nele, Gonzalo analisa a atuação do grupo formado por Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos e sua produção poética e crítica, considerada no contexto do modernismo que predominou, com diferentes matizes, no panorama internacional.


Quinta-feira, 28 de julho de 2016


Poesia Concreta no Sesc Pompéia






Foi realizado nesta quarta feira, 27, no Sesc Pompéia o Bate Papo:"Poesia Além da Página", uma reflexão sobre a exposição "REVER", de Augusto de Campos, os 65 anos de sua obra poética manifestada nas artes visuais e na música.

"Sua obra singular ultrapassa o campo da literatura, chegando às artes visuais contemporâneas. Letras, palavras, imagens e sons ganham corpo na mostra, permitindo ao público uma imersão integral no universo "verbivocovisual" do autor."

 
27/7/2016

O evento contou com a presença de Marjorie Perloff, ensaísta e crítica literária norte americana e professora de Humanidades da Universidade de Stanford, na Califórnia, Gonzalo Aguilar, especialista em Literatura Brasileira, autor do livro, Poesia Concreta Brasileira, Augusto de Campos, poeta concreto, tradutor e ensaísta, e Daniel Rangel, diretor artístico, mediador do evento e curador da exposição no Sesc Pompéia

Trata-se de uma exposição dos conceitos e características do Universo da arte da poesia concreta no Brasil.

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes, cantam o concretismo já em 1968, na canção Batmacumba, obra composta por Gil e Caetano, integrantes do movimento tropicalista:Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Tom Zé, Capinam, Nara Leão, Mutantes e Rogério Duprat.

Em 1988, mais uma vez, Caetano entra na atmosfera concretista, quando musicou "O Pulsar", poema concreto de Augusto de Campos, 1975.

Arnaldo Antunes põe presente o concretismo em sua arte poética e resume genialmente quando diz que "Todas as coisas do mundo não cabem numa ideia, mas tudo cabe numa palavra."

O evento ainda será realizado no sábado, às 21 horas e domingo, às 19 horas, com participação de Caetano Veloso, Tom Zé, além de Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Péricles Cavalcanti, Cid Campos e Daniel Rangel, com garantia de ingressos em uma hora de antecedência.



SOMPOESIA
Show em homenagem a Augusto de Campos, com Cid Campos, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Péricles Cavalcante e Tom Zé.
Os artistas serão acompanhados por Felipe Ávila (guitarra), Moisés Alves (teclados), Robertinho Carvalho (baixo) e Alê Damasceno (bateria).
Algumas das obras do artista-poeta que serão apresentadas estão integradas nas instalações da exposição, como "Pulsar" (Caetano Veloso/Augusto de Campos), "Elegia" (Péricles Cavalcanti/Augusto de Campos), "Sem Saída" e "Cançãonoturnadabaleia" (Cid Campos/Augusto de Campos), além de "Cademar" (Tom Zé/Augusto de Campos) e a interpretação de Arnaldo Antunes do poema "Tensão" (Augusto de Campos), entre outras.
 



 
Cid Campos, Caetano Veloso e Augusto de Campos

O cantor e compositor Caetano Veloso é um dos participantes do show “Sompoesia”, que acontece neste sábado (30) no Sesc Pompeia, em São Paulo, em homenagem ao poeta Augusto de Campos, grande expoente da poesia concreta.
Sob direção de Cid Campos, filho de Augusto, o espetáculo reúne ainda nomes como Tom Zé, Arnaldo Antunes e Péricles Cavalcanti, e encerra a exposição “Rever”, a maior individual baseada na obra do poeta.
No Instagram, Caetano divulgou um momento do ensaio, em que canta a música “O Pulsar”, feita por ele a partir de poema do próprio Augusto de Campos e que foi lançada originalmente em um compacto encartado na obra “Caixa Preta” (Augusto de Campos e Júlio Plaza – 1975) e regravada mais três vezes pelo cantor: em “Velô” (1984), “Caetano Veloso” (1985) e “Fina Estampa” (1996).


Ensaio "O Pulsar"

Cid Campos e Arnaldo Antunes (Ensaio)


Caetano, Arnaldo Antunes e Tom Zé se unem no tributo a Augusto de Campos
Folhapress
29/07/2016 18h00

THALES DE MENEZES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois shows neste sábado (30) e domingo (31), com ingressos esgotados, encerram a exposição REVER - Augusto de Campos, a maior individual já realizada do poeta, que ocupou o Sesc Pompeia no mês de julho. Nos dois dias, a celebração da relação do trabalho de Augusto com a música recebe tributo de Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Cid Campos, Péricles Cavalcanti e Tom Zé.
Os participantes do show Sompoesia foram e são associados a uma música pop de vanguarda, a uma aposta em experimentações. Muitos têm parcerias e ligações com a poesia concreta e com o trabalho de Augusto.
Em 1983, o programa "Fábrica do Som", produzido pela TV Cultura e gravado no mesmo teatro do Sesc Pompeia, prestou homenagem a Augusto de Campos com uma noite de música. Caetano, Péricles e Cid Campos participaram daquele programa, cujo formato é inspiração para as duas apresentações do fim de semana.
Cid, baixista e filho de Augusto, afirma estar muito feliz ao conseguir reunir esse elenco. "Puxa, são dois dias e as agendas deles são complicadas, mas todo mundo quis participar de qualquer jeito. A base da apresentação é um show meu, como meus músicos, e vou chamando os convidados."
Cid deve tocar no começo do show a música "Mamãe Merece", que ele também mostrou em 1983. Cada convidado deve fazer três ou quatro músicas. "Péricles vai mostrar 'Novoleta', que apresentou em 1983 com Regina Casé. Depois entram Arnaldo, Tom Zé. O próprio Augusto, aos 85 anos e em plena atividade artística, fará uma participação, declamando poemas."
A ideia do show é um recorte de compositores populares que fizeram trabalhos ligados à poesia concreta, mostrando poemas musicados e também traduções de Augusto, como "Elegia", de John Donne. Caetano gravou a versão de Augusto desse poema, mas quem deve cantá-la agora é Péricles.
"O maior desafio", prossegue Cid, "é trabalhar com textos que na maioria das vezes não foram feitos para serem musicados, e mesmo assim conseguir um resultado harmonioso, um som de canção." O músico fez há tempos um levantamento de músicas ligadas aos três maiores nomes da poesia concreta, Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, e contabilizou mais de 200 gravações.

TOM ZÉ
Um dos convidados do show, Tom Zé fica impressionado com a penetração da poesia concreta no cotidiano. "No aeroporto de Congonhas, o estacionamento se chama SaoParking. Acho que o Augusto deve ter ido lá cortar uma fita na inauguração. É uma expressão que parece tirada do traquejo e do manejo das palavras que os concretos fazem. É impressionante, Cheguei a tomar nota de nomes de bares, de promoções de lojas, com palavras truncadas, palavras plurisignificantes. Até quem não sabe o que é poesia concreta já a assimilou de alguma forma,"
O músico tem um sentimento de gratidão a Augusto de Campos. "Quando chegamos a São Paulo, nós, ligado à tropicália, tivemos um apoio de uma parte da intelectualidade, da qual Augusto era integrante."


30 Julho 2016 

O Estado de S.Paulo
 
Cultura



Caetano Veloso, Cid Campos, Péricles Cavalcanti e outros fazem homenagem a Augusto de Campos

Espetáculo Sompoesia será realizado no sábado, 30, e domingo, 31, no Sesc Pompeia

Pedro Antunes

"Cabe (em (não (cor (meu) ação) cabe) minha) ça”.

Na obra do poeta concreto, tradutor e escritor Augusto de Campos, nessa brincadeira com parênteses e palavras às vezes pela metade, está uma de suas mais singelas criações – e das mais pop. “Meu coração não cabe em minha cabeça”, diz a obra – ou, para os mais racionais e menos emocionais, “minha cabeça não cabe em meu coração”. Com a arte de dizer muito em poucas linhas, usando-se de artifícios visuais e repetições, Augusto é grande nome da literatura do País. Suas obras reverberam na música há, pelo menos, quatro décadas, basta lembrar da influência que os poemas concretos dele tiveram no movimento cultural conhecido como Tropicália.

Aos 85 anos, sendo 65 de carreira, o poeta é homenageado pelo Sesc Pompeia com a maior mostra sobre sua obra já reunida. Chamada REVER, a exposição chega ao fim neste domingo, 31, mas não antes sem se esparramar pela música mais uma vez. Sábado, 30, e domingo, o teatro da unidade receberá Augusto e um punhado de convidados estrelares para performances nas quais o som e a poesia se unem em algo único – ou quando o texto extrapola a própria dimensão escrita.
 

Cid Campos, Caetano Veloso e Augusto de Campos


Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Dirigido por Cid Campos, músico filho de Augusto, o espetáculo Sompoesia leva para o palco Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Péricles Cavalcanti e Tom Zé. “Será um show muito especial”, diz Cid. Os compositores irão interpretar suas versões para poemas de Augusto de Campos assim como parcerias entre eles. “(A ideia) é mostrar um olhar diferenciado sobre a poesia de Augusto. Textos deles que já são belíssimos, mas é interessante perceber o que acontece com eles quando passam pelo olhar dos músicos.”

A reunião no teatro é curiosa, porque foi ali que, em 1983, Augusto e alguns desses nomes se reuniram para o programa Fábrica do Som, da TV Cultura. “Será emocionante voltar lá”, diz Péricles Cavalcanti, um dos presentes naquela noite há 33 anos. Ali, ele executou Nuvoleta, com a participação de Regina Casé. A canção, que atualmente voltou ao seu repertório e será novamente tocada por ele, foi criada a partir de uma tradução de Finnegan’s Wake, de James Joyce, feita por Augusto. “Às vezes, um texto soa como canção. Quando li esse trecho, achei que dava samba”, explica o músico. “O Augusto, por gostar muito de música popular e conhecer canções eruditas, experimentais, tem uma coloquialidade musical”, elogia Péricles, que também gravou Elegia, outra parceria com Augusto.

A música, por sua vez, será executada por Caetano Veloso, cuja interpretação da difícil Pulsar, de Augusto, foi determinante para a própria carreira dele. Caê, outro presente naquela histórica noite de 1983, foi imensamente inspirado pelas poesias concretas e dessa fonte bebeu desde os tempos de Tropicália ao lado de Gilberto Gil – como na parceria de Batmacumba, registrada no disco Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968.

Caetano e Augusto se conheceram em um jantar em 1967. Augusto havia escrito um artigo sobre a música Boa Palavra, do músico baiano, e certa vez se encontraram para conversar em um restaurante. Augusto falou sobre Lupicínio Rodrigues, lembra Caetano. “E eu devo ter ficado tímido, quase sem falar nada”, diz o músico. “Desde esse dia, ficamos amigos. Ele foi assistir a alguma gravação do meu primeiro LP tropicalista, escreveu artigos iluminadores sobre o nosso trabalho. Passamos a nos ver com certa frequência.”

O músico baiano acerta na mosca ao detalhar a habilidade do amigo com o som e poesia – ou sompoesia, esse neologismo que dá nome ao espetáculo e faz todo o sentido no contexto da obra de Augusto de Campos. “O que mais me impressiona é a lucidez da visão dele. Desde as escolhas críticas até os poemas mais minimalistas. As palavras de Augusto não precisam de música, mas são sempre aptas a tornar-se canto.”
 







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