martes, 8 de septiembre de 2015

2002 - A FESTA DOS VELLOSO - 95 anos D. Canô




2002
Revista ISTOÉ Gente 
n° 164 - 23/09/2002


Aniversário - 16/9/2002

Na véspera do aniversário, Dona Canô em ação na tradicional cerimônia do corte do quiabo, fatiado para preparar o caruru do dia seguinte: “Virei atração turística”, diz ela, que recebe visitas de curiosos só pela manhã



Na cozinha de casa, onde costuma fiscalizar o almoço

Com Bethânia, que liga várias vezes por dia: “Fui a última a sair de perto dela”, diz a cantora

Caetano e o filho Tom, de 6 anos, no almoço da família
 


A festa dos Velloso


Caetano, Maria Bethânia e os outros seis filhos de Dona Canô comemoram com missa e festa para 300 pessoas, na Bahia, os 95 anos da matriarca da família



Luís Edmundo Araújo, de Santo Amaro da Purificação (BA)
 




“Se viver é viajar, a viagem de minha família foi numa canoa. A aparência da embarcação pode ser frágil, mas na verdade ela é de uma força fora do comum, e foi nela que meu pai escolheu levar os filhos em segurança.” Mais do que um trocadilho com o nome da mãe, o texto lido pela escritora Mabel Velloso na missa dos 95 anos de Dona Canô dá uma mostra do que a dona-de-casa Claudionor Vianna Teles Velloso representa para a família mais conhecida de Santo Amaro da Purificação, na Bahia. A mais famosa entre os 60 mil moradores da cidade, desde que os filhos Caetano Veloso, 60, e Maria Bethânia, 56, projetaram o nome da família como ídolos da MPB, a matriarca de 8 filhos, 9 netos e 3 bisnetos dispensa o rótulo de celebridade para impor respeito dando um show de sabedoria na arte de levar a vida. “A vantagem da idade é saber viver, porque se a gente ficar se martirizando não vive bem”, afirma.

E foi com a simplicidade de sempre que Dona Canô assumiu as rédeas da família formada com o marido, o telegrafista José Teles Velloso, o Zeca, morto em 1983, com quem se casou aos 23 anos. A primeira providência foi manter viva nos filhos a lembrança do pai, que não se limita à foto em uma das paredes da casa. Desde a morte de Zeca, Dona Canô nunca mais fez qualquer refeição sentada na cabeceira da mesa, antes dividida com o marido. “A presença de meu pai ainda é muito forte na casa. A impressão é que ele também está em minha mãe”, diz Mabel, buscando uma explicação para o poder de aglutinação da mulher que até hoje mantém a família unida em torno dela.

Com a tranqüilidade típica de quem nunca foi “muito revoltada com a vida”, a mãe de Caetano e Bethânia dá sua receita para se manter lúcida. “A raiva estressa o organismo. As pessoas devem levar as coisas sem se aborrecer, fazendo de conta que não ouvem, não vêem”, ensina a matriarca. Ela mora apenas com Nicinha, a filha mais velha, mas não passa um dia sem falar com os filhos. De todos, só Caetano não faz ligações diárias para Santo Amaro. “Caetano é imprevisível. Ele acorda tarde e, por causa do trabalho, tem pouco tempo para conversar”, justifica, referindo-se ao único filho que não carrega os dois eles no sobrenome. “O cartório registrou assim, mas ele não deixou de ser Velloso”, afirma a mãe do compositor.

No que depender dos outros filhos, no entanto, nunca vai faltar telefonema para Dona Canô atender, inclusive de Bethânia, a mais apegada das filhas. “São duas ligações por dia, no mínimo”, entrega a mãe, exibindo o riso farto, uma de suas marcas. A cantora confirma. “Fui a última a sair de perto dela, pra estudar em Salvador quando tinha 17 anos, e até hoje falo com ela três, cinco vezes por dia, quantas for preciso.”



Entre Caetano e Maria Bethânia (à dir) na missa pelo aniversário na segunda-feira 16 e dançando no pátio de casa (à esq): “A vantagem da idade é saber viver, porque se a gente ficar se martirizando não vive bem”, afirma.


Os cuidados de Bethânia com a mãe são tantos que Dona Canô escondeu dela o acidente sofrido uma semana antes do aniversário. Sentada na sala da casa de oito quartos, repleta de registros das carreiras dos dois filhos famosos nas paredes, ela arrancou um pequeno pedaço da pele da canela esquerda ao descruzar as pernas. O sangue do ferimento, causado pelo calor e pela fragilidade da pele, assustou Nicinha, que viu a cena. A própria Dona Canô se encarregou de tranqüilizar a filha. “Disse pra ela fazer um curativo com gaze e na manhã seguinte chamei o médico. Se Bethânia soubesse iria ficar louca de preocupação”, conta.



O incidente mostrou a vocação de enfermeira de Dona Canô, já conhecida na família. A escritora Mabel, terceira dos oito filhos, não se esquece de um verão há mais de 50 anos, no antigo distrito de Berimbau, hoje Conceição de Jacuípe. Na época, um menino de dois anos da casa vizinha estava com uma forte dor de ouvido. Apesar dos esforços do farmacêutico local, foi Dona Canô quem descobriu um caroço de feijão germinando no ouvido do menino e tirou a semente de lá. “Ela também dava injeção em todo mundo na cidade. Meu pai é que brincava dizendo: ‘Canô ainda vai matar um’”, lembra Mabel.



Mas não matou, e ainda usou o dom para salvar a vida de Irene, a filha caçula agregada à família ainda recém-nascida. Ao visitar a menina sete dias após o nascimento, Dona Canô achou que a mãe estava com tétano e decidiu levar a criança para casa. O palpite foi confirmado dias depois, com a morte da mãe. 


“Ela evitou que Irene fosse contaminada”, diz Mabel. Nicinha, a outra filha adotada, também entrou na família graças a uma doença. Desde menina, passava a maior parte do tempo na casa da família Velloso, até que Maria Clara, mãe de Zeca, percebeu que a menina tinha sarampo e a impediu de sair de casa. Passada a quarentena, Nicinha preferiu não voltar para a casa dos pais biológicos, que eram parentes de Zeca.

 A festa de aniversário de Dona Canô, em sua casa (fachada à dir.), virou tradição: “As pessoas devem levar as coisas sem se aborrecer, fazendo de conta que não ouvem, não vêem”, ensina. 

Outra vocação de Dona Canô é a de cozinheira, o que gera mais telefonemas dos filhos. “Ligo para que ela me oriente quando tenho de cozinhar para muitas pessoas ”, conta Roberto, único dos oito a morar em São Paulo. Modesta, Dona Canô diz que hoje dá ordens às três cozinheiras da casa e “só faz olhar”, mas não é bem assim. Na tradicional cerimônia do corte do quiabo, quando a família recebe os amigos na véspera do aniversário da matriarca, para que todos cortem o legume necessário para o caruru do dia seguinte, ela não só cortou sua cota como foi diversas vezes à cozinha verificar se a feijoada do almoço estava no ponto.




É nas festas que a família se reúne. Até Caetano e Bethânia sempre se esforçam para comparecer. Na segunda-feira 16, os dois chegaram no decorrer da missa e depois foram à festa que reuniu cerca de 300 pessoas na casa da família. Como de hábito, a cantora ficou em seu quarto, cuja janela dá para o pátio por onde circulam os convidados. Assediado com pedidos de fotos e autógrafos, Caetano mal tinha tempo para conversar com parentes e amigos de infância. “O aniversário de minha mãe é sempre uma festa popular dentro de casa. Isso tudo é resultado da alegria dela”, resumiu o compositor.


ATRAÇÃO TURÍSTICA 
Mesmo quando não tem festa em casa, Dona Canô não fica sem receber visitas, e muitas vezes de desconhecidos de passagem pela cidade. “Virei atração turística”, reconhece a mulher que já recebeu turistas de todo o Brasil e do exterior. “É por causa de Caetano e de Bethânia, mas recebo todos pelos dois”, completa. Para manter a privacidade, ela instituiu a parte da manhã como horário das visitas. 

Depois do almoço, mesmo quando não segue o hábito de dormir, manda dizer que não pode atender. “Senão não consigo fazer mais nada”, explica.
 
Mas a mulher que dá nome ao único teatro de Santo Amaro não desperdiça tanto prestígio. Junto aos políticos que a respeitam, já conseguiu muita cadeira de rodas, roupas e comida para a população carente da cidade. “Minha mãe se ocupa com caridade e, acima de tudo, festeja a vida. Ele sabe viver plenamente. Para mim, é força, referência do significado mais amplo e bonito do que é viver”, conclui Maria Bethânia.


Os irmãos de Caetano que ninguém conhece
 
                                                     Nicinha                                                     Clara
                         Mabel                                                      Rodrigo
                                                          Roberto                                                      Irene




REVISTA QUEM ACONTECE

Mariana Trindade

Fotos: Edson Ruiz




A COMEMORAÇÃO DOS 95 ANOS DE DONA CANÔ


A matriarca dos Veloso completou mais um ano de vida ao lado dos filhos e amigos em sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, na Bahia

 
No fim da missa, dona Canô foi surpreendida com um Parabéns pra Você. Os filhos improvisaram até uma vela para a matriarca apagar
 


Para celebrar a nova idade de dona Canô, uma homenagem foi feita por seus filhos, netos e amigos. Durante a missa celebrada no dia 16, eles levaram até o altar da igreja matriz de Nossa Senhora da Purificação, a 75km de Salvador, 95 rosas vermelhas para agradecer a cada ano de vida da matriarca. 'Eu não esperava essa festa toda, estou muito contente de encontrar tantos amigos', disse ela, logo ao entrar na igreja. Dona Canô também foi homenageada pelo Coral Miguel Lima, que conduzido por sua filha mais velha, Nicinha, de 72 anos, entoou seus cânticos preferidos. Os netos e bisnetos pediram proteção em preces e também levaram ao altar trigo, uva, pão e vinho.

Os filhos famosos chegaram no meio da solenidade. Primeiro Maria Bethânia, de 56 anos, e depois Caetano, 60, acompanhado do filho Tom, 5. Ao fim da cerimônia um parabéns inesperado, quando dona Canô apagou uma vela improvisada pelos filhos Clara, 71, e Roberto, 63. A caçula Irene, de 41, não agüentou a emoção e chorou. 'Nós duas vamos firme. Não podemos chorar', disse Bethânia segurando firme na mão de dona Canô que acabou revelando: 'Depois que o meu marido Zeca morreu, prometi ao Caetano que nunca mais choraria.'

Após a missa, cerca de 400 convidados foram recebidos na casa da família com um caruru, comida que os aniversariantes do mês de setembro oferecem aos santos Cosme e Damião, celebrados no dia 26. Além do prato principal, feito pela cozinheira Isaura, os convidados provaram vatapá e frigideiras de caranguejo, camarão, siri e maturi, a preferida de Caetano. Também faziam parte do bufê, saladas de kani com manga, de polvo, farofa de azeite e banana da terra frita.

Organizado pelos filhos Mabel, 68, e Rodrigo, 67, o almoço teve mesas decoradas com legumes e flores de bananeira agreste, além de muitas bexigas amarelas e brancas. No bolo, letras das músicas de Caetano e Bethânia de que dona Canô mais gosta, como Abelha Rainha e Luz do Sol.

Em uma sala próxima ao pátio onde ficaram os convidados, Bethânia aproveitou para conversar com amigos de infância e falar da mãe. 'Ela é uma grande matriarca e ao mesmo tempo uma criança que gosta de brincar, de festejar e de se divertir'. Como resposta ao carinho da filha, dona Canô retribuiu: 'No próximo ano, quero todos os meus filhos de novo na minha festa.' Caetano não cabia em si de tanta emoção. 'Desejo que ela permaneça sempre maravilhosa.'














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