domingo, 19 de julio de 2015

2008 - CUCURRUCUCÚ PALOMA




10 July Thursday, 21:00, Cemil Topuzlu Open Air Theatre.


CAETANO VELOSO "SOLO" EN ESTAMBUL


Se presentará en el marco del 15th Internacional Istanbul Jazz Festival el 10 de julio de 2008 en el Teatro al Aire Libre.



"...O show em Istambul foi numa concha acústica parecida com a do Teatro Castro Alves em Salvador. Muito bom. Platéia turca. Reação admirada e quente. ..."


27-07-2008
"Istambul: o show lá foi lindo mas a cidade merece texto à parte." 


 

 
2008 – CAETANO VELOSO 
Álbum “15. Uluslararası İstanbul Caz Festivali / 15th International Istanbul Jazz Festival (July 02-16 Temmuz 2008)”
[Varios intérpretes]
EMI Music / Kent CD 5099923488823, Track 2. [Turquía]


1. SWEET BIRD 8:15 Herbie Hancock
2. CUCURRUCUCU PALOMA 3:45 Caetano Veloso
3. MY FOOLISH HEART 5:33 Al Jarreau
4. JUST MY IMAGINATION 4:51 Dianne Reeves
5. WHAT A LITTLE MOONLIGHT CAN DO 5:13 Nnenna Freelon
6. MIO MEHMET, FORSE IL DESTINO M’IMPEDIRA DI RIVEDERTI 4:27
Paolo Fresu / Richard Galliano / Jan Lundgren
7. MUEVE LA CINTURA MULATO 3:34 Omara Portuondo 

8. I WISH I COULD GO TRAVELLING AGAIN 4:06 Stacey Kent
9. RULES & REGULATIONS 4:03 Rufus Wainwright
10. PICK SOMEBODY UP 3:33 Raul Midon
11. BRUCE LEE 5:23 Marcus Miller
12. BABARABATIRI 6:52 The Big 3 Palladium Orchestra
13. MANO SUAVE 5:23 Yasmin Levy
14. DERDIN NE? 6:29 Taksim Trio



Fonte: http://www.obraemprogresso.com.br/2008/06

Blog de Caetano Veloso



9/7/2008

“Escrevo sem cuidado porque espero o avião para Istambul. Bem, vou ter um dia de folga lá e Istambul é grande novidade em minha vida.

Estou em Istambul - e foi aqui, num quarto enorme de hotel, todo envidraçado, de onde se vê o Bósforo (de onde virá o Pavel turco para dizer que está tudo errado?) e, naturalmente, o extremo oeste da Ásia.

Aliás, voar de Roma a Constantinopla foi como reler o libro de Gibbon em menos de duas horas.

Foi rever o que aconteceu nesta parte nuclear do nosso mundo desde Augustus até Maomé.

E passando pelas guerras entre as facções do cristianismo, com Jorge de Capadócia odiado pelo autor (talvez por ser inglês ele teve mais gosto em desancar o padroeiro da Inglaterra), e, antes, pelas barganhas entre Roma e os bárbaros.

Adoro os “alamanos” terem sido uma tribo germânica que se autodenominava assim, significando que eram “todos os homens”.

E outra, da Gália, cujos indivíduos se chamavam de “francos”, significando que eram “livres”.

Mas eu olhava pela janela do avião, emocionado, e pensava que o mais bonito é o estilo de Gibbon.”



27/7/2008

Istambul: “o show lá foi lindo mas a cidade merece texto à parte.”







9/8/2008

ISTAMBUL



“Comecei a ler o livro de Pamuk antes de sair da Itália. Chegamos a Istambul de noite. Um rapaz gentil e suave nos recebeu e outro nos acompanhou no carro. Falava inglês. O motorista, não. Era bom ver a estrada perto do mar, palmeiras, ciprestes, árvores altas. O asfalto era todo bom e a iluminação forte e sem falhas. Passamos por ruinas romanas: colunas, paredes, um aqüeduto. Logo a polícia nos parou. O motorista mostrou documentos. Dialogaram (quase discutiram) em turco. Giovana e eu ficamos quietos. Quando liberaram o carro, o rapaz que nos acompanhava nos disse que o país estava passando por um momento delicado. Ele se referia à tentativa dos secularistas de derrubarem judicialmente o governo e cassar o partido do primeiro ministro. A acusação era de terem agido em desacordo com o princípio de total separação entre religião e Estado, peça central da constituição republicana instaurada por Atatürk no início do Século 20.

O atual presidente é religioso, sua mulher usa véu, e o governo conseguiu mudar uma lei que proibia as moças de usarem véu nas universidades.

Sinam, o rapaz que falava inglês, completou dizendo que a tendência fundamentalista cresce na Turquia.

Eu tinha lido na The Economist sobre isso (eu não disse que leio The Economist?) e, como um liberal inglês, concordava com a tese da revista de que não seria bom se se derrubasse esse governo religioso mas liberal.

Sinam discordava docemente: um infiel, descrente e moderno, ele achava que os secularistas tinham razão.

Eu não entendia bem o inglês dele (não entendo bem inglês) mas acho que, em suma, ele dizia que mais vale lutar diretamente pelas coisas que você acha certas do que buscar muita sutileza estratégica.

Ele também dizia que a Turquia vai entrar na União Européia e que tanto os secularistas quanto o governo querem isso.

Não insisti com a pergunta “e os fundamentalistas?”. Aprendi muito pouco sobre tudo isso com Sinam.

Mas estávamos já no apartamento grande e luxuoso de um hotel com bossas orientais e visão ampla para o Bósforo. Ah, o Bósforo!

Tínhamos atravessado uma ponte sobre o Chifre de Ouro. Perguntei a Sinam se tínhamos cruzado o Bósforo. Não. Era só o Chifre. Ele me disse que talvez do banheiro eu visse a ponte sobre o Bósforo.

Fui ao banheiro e vi, através de uma parede-janela de vidro (que tentei abrir, iludido pelo reflexo do piso, pensando que ela dava para uma varanda, mas descobri no dia seguinte que ela dava para uma praça asfaltada 18 andares abaixo), o Bósforo.

De noite, as luzes das margens, as embarcações iluminadas, a ponte. De dia, o azul profundo, as diferentes formas de a superfície da água se encrespar (segundo os ventos por cima e as correntes por baixo), as torres finas das mesquitas. É extraordinariamente bonito e também é emocionante pensar que esse estreito separa a Europa da Ásia, que Constantino quis chamar a cidade de Nova Roma, que os otomanos a tomaram e dali comandaram o mundo muçulmano por séculos.

Lembrei de ter lido, há muitos anos, um livro sobre o Islã, escrito por um árabe, em que os turcos aparecem como um povo opressivo que desfigurou o espírito essencialmente tolerante dos muçulmanos, criando uma imagem que era o oposto do que ocorrera no Califado de Córdoba, quando cristãos e judeus viviam em paz num mundo islâmico.

É um livro cujo título e autor gostaria de lembrar agora, pois foi escrito muito antes do Taliban e do 11 de setembro.

A noite de Istambul é animada como a de Buenos Aires ou de Madri. Muita gente nas ruas pela madrugada. Nas praças, nos bares, nas calçadas. Muitos táxis. No dia da nossa chegada, alguns generais foram presos supostamente por planejarem um golpe contra o governo. Muitos militares são secularistas. Mas The Economist insinua que eles não são mais liberais do que o atual primeiro ministro. A equipe técnica e de produção do meu show saiu para passear enquanto eu dormia de manhã. Ao voltarem, Giovana estava nervosa porque, ao tirar fotos no Grand Bazzar, foi ameaçada por uma senhora de roupa preta e só com os olhos à mostra. Ela gritava e queria tomar a câmera da mão de Giovana. Giovana ficou em pânico, quis correr, foi difícil. André Botto, o nosso iluminador, tentou socorrê-la. Mas havia o risco de os homens que a cercavam reagirem e criar-se uma briga perigosa. Bahar, uma das moças da produção local, chegou a tempo de esclarecer para a mulher de véu negro que a foto podia ser apagada. No dia seguinte o consulado americano sofreu um ataque no qual 6 pessoas morreram. Mas nossos acompanhantes turcos estavam calmos e nos transmitiam calma. À noite, ouvi uma explosão que fez tremer o hotel. Fui olhar pela janela. Em pouco tempo vários carros de polícia evacuaram a imensa praça asfaltada em frente do hotel. Uma voz se ouvia por auto-falante. Um grupo de fotógrafos obteve permissão para entrar na àrea isolada e flashes explodiam, com as câmeras todas apontadas para um lugar no chão da praça. Do décimo oitavo andar não dava para eu ver nada. Parece que os policiais acharam outro explosivo ali e o desativaram. Liguei a televisão em busca de notícias mas só vi um programa de variedades em que se apresentava um rapper turco, com todos os trejeitos dos rappers americanos (e dos seus imitadores franceses, espanhóis, ingleses, italianos, portugueses…). A apresentadora super perua reproduzia os movimentos dos braços que todo rapper faz, e chamou alguém da platéia que soubesse a a letra toda. Veio um rapaz magro e feio, e, tal como se vê crianças brasileiras dizendo as rimas do “Diário de um detento”, repetiu toda aquela cascata de palavras em turco, para gargalhadas da apresentadora e de seus convidados - e ovação da platéia. O refrão com melodia era bem árabe (bem uma variante turca do canto melismático árabe), o que dava o tom local, mas, curiosamente, remetia a muitos raps americanos que fazem refrães com melodia árabe clichê. As voltas que o mundo dá. Voltei à janela e a praça ainda estava deserta e cercada de carros de polícia.

O show em Istambul foi numa concha acústica parecida com a do Teatro Castro Alves em Salvador. Muito bom. Platéia turca. Reação admirada e quente. No quarto do hotel, segui lendo Orhan Pamuk e sua Istambul em preto e branco, triste de saudade do império otomano. Mas ao olhar pela janela ou ao andar pela praça em frente à Mesquita Azul, ao olhar incrédulo para a cúpula sobrenatural dentro de Santa Sofia (que foi catedral bizantina mas virou mesquita e hoje é museu), Istambul sempre se reafirmava intensamente colorida. Senti uma certa sensação de opressão em Moscou e mesmo um quase medo. Em Istambul, com toda essa tensão política, medo nenhum. Tenho de corrigir: o melhor show da turnê foi em Viena. Na Ópera de Viena. Não só a acústica era no mínimo tão boa quanto a de Luxemburgo: o espaço, a inteligência natural da platéia, o ar culto da sala - tudo fez com que eu cantasse melhor do que posso. Trouxe um taco do chão do palco: presente do diretor da instituição.”




No hay comentarios:

Publicar un comentario