viernes, 30 de noviembre de 2012

2000 - NOITES DO NORTE


Primer álbum de inéditas despues de Livro (1997).































2000
Revista ISTOÉ Gente

18 de dezembro de 2000 - Edição n° 72


Sabe a última do Caetano?

O compositor cria um site na internet para divulgar Noites do Norte, no qual critica a imprensa e derrama elogios a Sandy, Ivete Sangalo e Nação Zumbi


Silvia Ruiz


Foto: André Teixeira/Agência O Globo


Com um olhar voltado para o passado e outro para o futuro, o compositor Caetano Veloso lançou na segunda-feira 11/12 Noites do Norte (Universal), 36º disco da carreira e o primeiro a ser integralmente divulgado a partir da internet.

Noites do Norte tem como sua maior fonte de inspiração o livro Minha Formação, memórias do político pernambucano Joaquim Nabuco, publicadas em 1900. Para lançá-lo, o compositor baiano driblou a tradicional série de entrevistas e construiu o site www.caetanoveloso.com.br, no qual colocou as faixas do novo CD e tratou de criar polêmica com assuntos atuais.

“Estou convencido de que a música comercial é de melhor qualidade do que a imprensa comercial brasileira”, diz na longa entrevista em seu site, concedida ao jornalista Geneton Moraes Neto.
“Não foi uma entrevista encomendada. Perguntei o que quis”, diz Geneton. “Entrevisto Caetano desde o início de minha carreira e, quando fui convidado por ele, já estava pleiteando uma entrevista para a GloboNews.

Com sua aparição virtual, Caetano subverteu a ordem dos lançamentos do mercado fonográfico. Declarou “sentir-se mal” com o tratamento dado pela imprensa aos lançamentos de livros, discos e filmes. Acha que as resenhas são escritas às pressas, sem cuidado, e publicadas sem o devido espaço.

O tom de crítica e escontentamento com a imprensa está presente em grande parte do material divulgado no site, onde sobram elogios para artistas como Daniela Mercury, Sandy e Ivete Sangalo. “Eu peço, pelo menos, que o sujeito que escreve na Folha ou o outro que escreve no Globo redijam a frase corretamente. É o mínimo!” Além das cantoras populares, Caetano elogiou também o grupo pernambucano Nação Zumbi. “Achei a banda a melhor coisa do mundo.”

As críticas do compositor à imprensa não constituem polêmica nova. Caetano sempre fez isso. No ano passado, por exemplo, a jornalista carioca Hildegard Angel foi atacada por ele em uma carta enviada ao jornal O Globo para contestar nota publicada por ela sobre uma suposta briga entre o compositor e João Gilberto. Também já comprou briga com o The New York Times, após comentário do jornal sobre sarongue que vestiu num evento em 1993.

Por isso, talvez o ponto forte do novo trabalho de Caetano seja o seu mergulho no passado, a redescoberta do Brasil do final do século 19. “Fiquei apaixonado por um texto magnífico que começa dizendo: ‘A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil’”, diz ele sobre techo do livro de Joaquim Nabuco, musicado no novo disco.

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“Posso mostrar a você que, numa gravação
da Sandy, a afinação é 100%!... A afinação
é em nível de Elis Regina! Mas posso pegar o
texto de muitos jornalistas e dizer: venha cá,
o que é que este parágrafo quer dizer?
É tudo errado, mal escrito’’

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“...Daniela Mercury canta afinado, ensaia bem
os números; Ivete Sangalo arrebenta cantando;
Sandy é uma cantora perfeita, sob o
ponto de vista técnico’’

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“Eu, pessoalmente, estou convencido de que a
música comercial é de melhor qualidade do
que a imprensa comercial brasileira’’

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“Digo: comparada com o que vejo
nesses veículos, Daniela Mercury é
São Francisco de Assis’’

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“A escravidão permanecerá por muito tempo
como a característica nacional do Brasil. Ela
espalhou por nossas vastas solidões uma
grande suavidade; seu contato foi a primeira
forma que recebeu a natureza virgem do País,
e foi a que ele guardou; ela povoou-o como se
fosse uma religião natural e viva, com os seus
mitos, suas legendas, seus encantamentos;
insuflou-lhe sua alma infantil, suas tristezas
sem pesar, suas lágrimas sem amargor, seu
silêncio sem concentração, suas alegrias sem
causa, sua felicidade sem dia seguinte... É ela
o suspiro indefinível que exalam ao luar as
nossas noites do norte’’



Trecho do livro Minha Formação, publicado em 1900 por Joaquim Nabuco e musicado por Caetano



Noites do Norte é um belo disco. A ênfase das canções é inspirada pela obra do escritor Joaquim Nabuco. Caetano também homenageia Raul Seixas e se reporta à “vontade fela da puta de ser americano” como um padrão essencial à cultura brasileira. Na faixa “Michelangelo Antonioni”, composta em italiano, aponta para sua paixão pelo cinema italiano.

No mais, temos a engenhosidade desse baiano que combina de maneira absolutamente original a cultura popular e erudita nos parâmetros de melodias sinuosas e harmonias que se encadeiam com o rigor da melhor música. Noites do Norte é um produto novo e completo, pois pode ser ouvido como música popular e ter sua apreciação complementada por toda discussão suscitada pelo conteúdo idiossincrático do site.

O disco é composto por diversas sonoridades distintas entre si, mas que formam uma unidade expressiva. A polirritmia dos tambores complementa-se com as orquestrações jobinianas de Morelembaum. A busca pela sonoridade original utiliza até o som eletrônico e o conhecimento do filho Moreno Veloso, cuja música é influenciada pelas novas tecnologias. Temos muito Caetano nesse disco de Caetano, pois ele optou por ser o próprio produtor do álbum, contando apenas com a participação e o auxílio de amigos e de músicos próximos que conhecem intimamente seu universo refencial.









2000
NOITES DO NORTE
Universal Music / Mercury Records CD 73145483622


01. ZERA A REZA (Caetano Veloso)
02. NOITES DO NORTE (Caetano Veloso sobre texto de Joaquim Nabuco)
03. 13 DE MAIO (Caetano Veloso)
04. ZUMBI (Jorge Ben)
05. ROCK’N’RAUL (Caetano Veloso)
06. MICHELANGELO ANTONIONI (Caetano Veloso)
07. CANTIGA DE BOI (Caetano Veloso)
08. COBRA CORAL (Caetano Veloso sobre poema de Waly Salomão) con Participaciones Especiales: Lulu Santos y Zélia Duncan
09. IA (Caetano Veloso)
10. MEU RIO (Caetano Veloso)
11. SOU SEU SABIÁ (Caetano Veloso)
12. TEMPESTADES SOLARES (Caetano Veloso)



 
 
 

 

 
 







 
 
 



 
 



 

 
 




 
 
 

                                                        Foto: Mario Cravo Neto